Aguenta? Baiano cria acarajé de 2kg e vira sensação no interior da Bahia
Carlos Gomes dos Santos apostou em acarajé gigante que desafia a gula humana: ‘Até hoje não vi ninguém comer um completo sozinho’
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Baiano de acarajé Carlos Gomes dos Santos inventou acarajé de 2kg em Paulo Afonso. Crédito: Divulgação
O baiano de acarajé Carlos Gomes dos Santos (@carlos__gomes321), 47 anos, não esconde de ninguém que ele e a família são evangélicos. Mas isso não foi impeditivo para ele apostar num prato que é a pura tentação do pecado da gula: um acarajé de 2kg. Você toparia encarar esse desafio? “Até hoje não vi ninguém comer um completo sozinho”, disse. Ele garante que os cerca de 1,2kg de massa e 800g de “recheio” do acarajé são motivos de bençãos.
“Com o acarajé de 2kg, passei a tirar mais R$ 100 a R$ 120 do que tirava antes”, afirmou. Os números completo do faturamento ele prefere não revelar. “É excelente. Não tenho do que reclamar”, desconversa. Geralmente, são cerca de 10 acarajés de 2kg vendidos de segunda a sexta no ponto localizado em frente à Igreja São José de Anchieta, em Paulo Afonso.
“São 20 quilos de feijão que vendo todo dia. Se botasse mais, vendia. Mas dá muito trabalho”, contou. Além do tamanho big, que custa R$ 30, no tabuleiro de Carlos Gomes sai acarajés de 750g, por R$ 10, e 250g, por R$ 5. “Eu começo a vender às 16h e 18h30 volto para casa, pois não tem mais nada”, afirmou.
Muitos dos clientes são pessoas que sequer moram em Paulo Afonso, mas passam sempre pela movimentada Avenida do Aeroporto, onde está localizado o ponto. Esse é o trecho final da BA-210, que liga a cidade a Juazeiro em 596 quilômetros de estrada margeada pelo Rio São Francisco. Foi numa dessas que o baiano de acarajé se tornou conhecido nas redes sociais. “Um caminhoneiro veio, gravou o vídeo, postou e viralizou. Eu nem sei o nome dele. Ele veio de passagem”, lembra. Assista o vídeo abaixo:
A própria localização de Paulo Afonso ajuda nessa movimentação. A cidade faz divisa com os estados de Pernambuco, Sergipe e Alagoas. Moradora de Petrolândia, município de Pernambuco que fica a cerca de 60 quilômetros de distância de Paulo Afonso, a dona de casa Jessiane Alves é cliente fiel do acarajé de 2kg.
“Sempre vou a Paulo Afonso, nem que seja uma vez por mês. E sempre passo para comprar. Tenho família na cidade e também gosto de fazer feira lá”, explicou. Ela garante que já comeu o acarajé de 2kg sozinha. “Demorou… mas claro que comi só. É nota 10 ou mais do que isso”, disse.
Isso explica o motivo do inventor da iguaria nunca ter visto ninguém consumir inteiramente seu produto. “O pessoal pede mais para levar. É mais difícil alguém comer no local”, apontou. Apesar disso, ele não trabalha com delivery. “Ou a pessoa vem pegar ou manda alguém buscar. Tem gente que manda mototáxi”, explicou
Carlos Gomes dos Santos prepara acarajé de 2kg em Paulo Afonso. Crédito: Divulgação
Ofício de mãe para filho
O surgimento do acarajé de 2kg foi fruto de uma ousadia de Carlos Gomes. “Eu tinha em casa uma concha separada que era grande e não servia para nada. Ao mesmo tempo, as pessoas sempre pediam para eu fazer acarajés maiores. Aí analisei bem, vi a concha e decidi testar. Minha mulher disse que não ia dar certo, mas eu quis testar. O primeiro que fiz, vendi. Depois, fui fazendo mais e não parou”, lembrou.
A mãe de Carlos Gomes, que ensinou o ofício para a esposa e filho, não chegou a ver a novidade. Ela faleceu há três anos. “Ela tinha uma clientela boa e, se eu não me engano, aprendeu a fazer acarajé com uma mulher de Salvador. Eu e minha esposa estávamos desempregados e começamos a ajudar minha mãe, até que minha esposa aprendeu. Aí decidimos colocar o nosso ponto”, lembra o baiano, que não esconde que a vida melhorou após passar a vender acarajé.
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Carlos Gomes dos Santos
“Eu tinha muito medo de não dar certo. No primeiro dia, só preparamos 2kg de massa. Em 30 minutos, vendi tudo. Eram 70 acarajés bem pequenos. Um dia depois, tripliquei a quantidade de massa. Nisso, já são 12 anos de ponto. Tenho que agradecer a Deus”
O acarajé de 2kg, no entanto, só surgiu há menos de um ano, mas já é sucesso na cidade. “A massa dele é muito boa e não é pesada. Os recheios também são muito bons. Com uma coquinha gelada, então, é perfeito!”, disse a analista comercial Amanda Carolina, que comprou o big acarajé para dividir com outras duas pessoas. “Sozinha não consigo”, brincou.
O eletricista Marcelo Marques também é cliente fiel dos acarajés menores. O de 2kg ele ainda não topou. “Não tenho essa capacidade, mas os colegas as vezes vão lá tentar fazer o desafio de quem come. Por enquanto, ainda não apareceu esse que coma tudo. A maioria sempre deixa”, revelou. Mas, afinal, como fazer um acarajé gigante ficar gostoso? O baiano responde:
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Carlos Gomes dos Santos
“A técnica é deixar no ponto. Como ele é muito grande, não pode tirar antes de jeito nenhum. Ele fica mais escurinho, crocante. E tem que saber manejar durante a fritura. Se for virar de vez, por exemplo, vai espichar para todo canto. Então, tem que saber manejar a concha. A massa é a mesma dos acarajés menores, não muda nada”
Hoje, toda a família de Carlos Gomes trabalha com acarajé. Ele é responsável pela massa e por vender o produto. A esposa é quem faz o chamado “recheio”: caruru, vatapá, salada, camarão seco e camarão triturado ao molho. A filha ajuda a mãe no preparo e o cunhado é quem frita os acarajés. Para tudo ficar pronto até 16h, a família começa a trabalhar às 7h30.
Críticas
Apesar do sucesso na internet, o vídeo viral do acarajé de 2kg veio acompanhado de algumas críticas em comentários. Algumas pessoas demonstraram incômodo com o fato de o baiano usar apenas uma colher para pegar cada ingrediente e não obedecer a uma ordem comum durante a montagem do prato. “Meu amigo, a ordem é pimenta, vatapá, caruru, salada e camarão por cima”, disse uma seguidora.
A forma como Carlos Gomes montou foi exatamente o contrário: camarão seco, salada, vatapá e caruru, além do camarão triturado ao molho, alimento que não é comum nos acarajés da capital baiana. “Salvador tem uma regra, mas se o cliente pedir assim, eu faço. Só que aqui tem muitos que pedem para eu botar o camarão primeiro e eu não posso contrariar o cliente”, defendeu.
Sobre o uso da mesma colher em vários ingredientes, ele explica: “Se botar de colher em colher, demora mais. Normalmente, os clientes preferem agilidade”, apontou. Para ele, não passa de questões culturais que mudam de cidade em cidade. “Eu já morei dois anos em Salvador, a trabalho, no bairro de Itapuã e via que a forma que Cira trabalhava. Ficava admirado. Mas esse negócio do recheio eu faço do jeito que o cliente pede”, encerrou a polêmica.
Desde 2004 que o acarajé é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como patrimônio nacional. Já o ofício das Baianas de Acarajé está inscrito no Livro dos Saberes desde 2005 como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil.