Pobreza, e não idade, é a causa principal dos problemas enfrentados pelos idosos na América Latina

Pobreza, e não idade, é a causa principal dos problemas enfrentados pelos idosos na América Latina

Em 2000, havia 40 milhões de pessoas com mais de 60 anos na América Latina. Em 2025, serão 100 milhões e, em 2050, a previsão é de que o número de idosos ultrapasse os 200 milhões. Além de ter uma população idosa em crescimento, a América Latina, que concentra mais de 220 milhões de pobres, é a região do mundo com maior desigualdade social, segundo o Banco Mundial.

Para o pesquisador José Miguel Guzmán, coordenador do Ponto Focal sobre Envelhecimento das Nações Unidas, os problemas enfrentados pelos idosos na América Latina não estão relacionados apenas à idade: é a pobreza que determina a deterioração de sua saúde e de sua qualidade de vida. Guzmán, que atua no Centro Latino-Americano e Caribenho de Demografia (Celade), veio ao Rio de Janeiro para participar do 18° Congresso Internacional de Geriatria e Gerontologia. Na quinta-feira (30/06), ele esteve na Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp), da Fiocruz, onde proferiu uma palestra sobre o envelhecimento da população e a desigualdade social na América Latina.

De acordo com o estágio em que se encontra o processo de envelhecimento populacional, Guzmán classifica os países latino-americanos em quatro grupos: incipientes, como Bolívia, Honduras e Paraguai; moderados, como Colômbia, Costa Rica e Peru; moderados avançados, como Brasil, Chile e Jamaica; e avançados, como Argentina, Uruguai e Cuba.

“Os países latino-americanos vivenciam contextos diferentes. Não há uma estratégia única que deva ser adotada por todos. Mas é claro que existem coincidências. O primeiro passo a ser dado, por exemplo, vale para todos: que façam um bom exame de suas realidades e identifiquem suas necessidades e desafios”, disse Guzmán.

Na análise do pesquisador, a falta de continuidade é uma das maiores dificuldades dos programas governamentais voltados para a terceira idade. “Os governos mudam e querem sempre inovar. Interrompem os programas já existentes, em vez de aperfeiçoá-los, e começam outros do zero”, salientou. As leis especiais para idosos costumam ser mais estáveis. Mas os regulamentos para sua aplicação, em geral, não são práticos nem claros. “Nesse sentido, as leis brasileiras estão entre as mais compreensíveis e completas”, comentou Guzmán. Contudo, nem todos os países da América Latina contam com legislação específica para a população idosa.

Estima-se que 40% dos idosos na América Latina não têm nenhum tipo de renda própria. E muitos dos que ainda trabalham, principalmente os homens, o fazem não por satisfação pessoal, mas por necessidade. Nas áreas rurais brasileiras, 70% dos indivíduos acima de 60 anos continuam trabalhando, embora o Brasil seja o único país latino-americano onde a cobertura de seguridade social é maior no campo que na zona urbana.

Muitos idosos, em especial as mulheres e sobretudo no México, declaram que sua saúde é deficiente. No entanto, os estudos de Guzmán indicam que, por trás dessa percepção negativa do estado de saúde, está uma série de questões sociais. No México, entre os idosos com maior escolaridade, 80% relatam ter acesso à cobertura de saúde. Já entre os que têm menos instrução, apenas 30% dizem contar com esse acesso.

Envolver os idosos em redes sociais de apoio destaca-se entre os desafios para o futuro. “É necessário também levar em conta os próximos idosos, isto é, identificar as necessidades daqueles indivíduos que estão agora por volta dos 55 anos”, lembrou Guzmán. Segundo o pesquisador, o discurso segundo o qual a população idosa deve ser respeitada pelos conhecimentos que acumulou no passado já não convence. “Os idosos são tratados como se fossem invisíveis. Por isso, temos que trazer à tona suas contribuições emocionais e econômicas, no presente, tanto para a família como para a comunidade”, sublinha Guzmán.

Fonte: Agência Fiocruz de Notícias.

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