Opinião – Desafios e estratégias para a jovem advocacia
] João Augusto Botto Nascimento
País com a maior proporção de profissionais do Direito por habitante do mundo, o Brasil tem um advogado ou advogada para cada 164 cidadãos. Cerca de 1,3 milhão de pessoas exercem regularmente a profissão, num universo de 212,7 milhões de habitantes, segundo o IBGE. Em um cenário de profundas transformações sociais, tecnológicas e jurídicas, os desafios são complexos e crescentes. Para a jovem advocacia, eles são ainda mais intimidadores.
No entanto, certas estratégias permitem superar barreiras e prosperar na carreira. O primeiro desafio é a intensa competição e a saturação do mercado. Para vencê-lo, é crucial investir em educação continuada e especialização.
Cursos de pós-graduação, certificações específicas, a participação em congressos e seminários, além de desenvolver habilidades em áreas emergentes, como direito digital e compliance, podem abrir novas possibilidades de atuação.
Outro grande desafio advém da rápida evolução tecnológica. A digitalização dos processos judiciais e a utilização de novas ferramentas tecnológicas transformaram a prática jurídica. A jovem advocacia deve buscar a familiaridade com softwares de gestão de processos, IA aplicada ao direito e plataformas de pesquisa jurídica. Participar de cursos de tecnologia voltados ao Direito e se manter atualizado sobre inovações tecnológicas pode proporcionar uma vantagem competitiva.
A máxima no campo jurídico “Quem você conhece pode ser tão importante quanto o que você sabe”, resume um mantra: não basta apenas o conhecimento! A construção de uma rede sólida de contatos é fundamental para o sucesso na carreira advocatícia.
Participar de eventos da OAB, associações de classe e grupos de estudo cria relacionamentos profissionais valiosos. Além disso, manter uma presença ativa em plataformas profissionais, como o LinkedIn, aumenta a visibilidade e abre portas para novas oportunidades.
A formação jurídica tradicional absorvida na graduação muitas vezes não prepara adequadamente para as habilidades interpessoais necessárias à prática diária. A capacidade de comunicação eficaz, negociação, resolução de conflitos e empatia são cruciais para o sucesso. Investir em treinamentos de inteligência emocional, liderança e ter o apoio de advogados mais experientes ajudam a desenvolver essas competências.
Já o desafio de manter altos padrões éticos e de responsabilidade profissional em um ambiente competitivo, é um dos maiores neste instante de crise.
Mais que uma obrigação legal, atuar com respeito às normas é uma vantagem competitiva. Familiarizar-se com o Estatuto da Advocacia e participar de cursos de ética profissional farão a diferença. Também significativo é encontrar o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal. A pressão para se destacar e a carga de trabalho intensa podem levar ao esgotamento. Estabelecer limites claros, praticar técnicas de gerenciamento de tempo, priorizar a saúde mental e buscar apoio quando necessário ajudam a manter o bem-estar.
Por fim, uma visão empreendedora, seja como autônomo ou em pequenos escritórios, exige habilidades de gestão de negócios, marketing jurídico e finanças, bem como atualizações em empreendedorismo jurídico e a orientação de advogados mais experientes.
Embora a jornada possa ser desafiadora, como visto, há inúmeras ferramentas e recursos para superar essas barreiras. A OAB/SE desempenha papel crucial nesse processo, via programas de capacitação e suporte à jovem advocacia. Com determinação e preparação adequada, é possível transformar desafios em oportunidades e contribuir significativamente para o fortalecimento da Justiça no Brasil.
[*] É advogado, membro da Anacrim/SE e secretário-geral do Fórum Brasileiro de Direitos Humanos.