A ESTÂNCIA QUE EU VIVI
Nasci em 1942 na Rua NOVA (Avenida Presidente Vargas) Estância, quando a Segunda Guerra Mundial estava ativa no mundo inteiro.
Nossa cidade vivia pacificamente longe dos barulhentos sons causados pelas bombas e outros artefatos de guerra.
As três principais fábricas de tecidos moviam a pleno vapor
Os operários das referidas fábricas tinham o seu lazer garantido pelos serviços sociais implantados pelos administradores Dr. Júlio Leite com o Cassino da Avenida Santa Cruz e o Sr. Constâncio Vieira com o Grêmio da área do Bonfim.
Os veículos sutomotivos eram poucos contando-se a dedos. Existia uma pequena bomba de vidro na Rua Capitão Salomão pertencente ao comerciante Pedro Barreto Siqueira que abastecia os.carros da cidade.
Três bares importantes, O Bar Central, o Oliva e o Bar Sul-Americano situados no centro da cidade eram os promotores de entretenimento com seus salões de sinuca e jogos de gamão e audição de rádio. Mas a alegria maior era o fascínio dos cinemas São João de Diogenes, o Gonçalo Prado da Fábrica Santa Cruz e o cinema do Grêmio.
As festas de largo na Praça da Matriz no Natal, a do Amparo, da Santa Cruz e do Bonfim com seus carrossel, ondas e balanços tiravam a cidade do seu marasmo natural.
Os domingos eram dias formidáveis com os banhos nas águas do Piauitinga e as idas às matines inesquecíveis dos dois cinemas da cidade onde após o encerramento das sessões os jovens iam a Sorveteria A Primaverara criada pela Senhora Jocasta Soares esposa do médico Dr. Pedro Soares, e depois passeavam pelas principais praças da cidade.
Estância do meu tempo era uma cidade muito pequena, terminava praticamente na “Corrente” nome popularmente chamado devido a uma corrente que controlava o trânsito da entrada e saída do veículos que vinham e saíam da cidade, ficava mais ou menos no sítio em que foi implantado o Fórum no bairro da Alagoas.
Para a alegria das crianças existiam os locais que vendiam as revistas de quadrinhos, sendo uma na casa do Lauro Babão no começo da Avenida Getúlio Vargas (Rua Nova) distribuidor das revistas A Cena Muda e os quadrinhos da EBAL. O outro ponto ficava na rua da Feira pertencente ao Sr. Floriano, responsável pela distribuição das revistas da Editora La Selva.
Os babas de futebol eram praticados no trecho do Poço do Carro uma área mais abaixo da Ponte D. Pedro II.
Os jogos profissionais de futebol eram feitos nos campos da Santa Cruz e no Cruzeiro.
Nossos professores eram os professores D. Joaquina e Azarias Santos. Como médicos tínhamos além do Dr. Pedro Soares, o Dr. Jesse Fontes e o Dr. Clovis Franco médico baiano que se radicou em Estância.
Os carnavais e as festas juninas tornava a cidade mais alegre. A influência baiana fazia os pais abastados a estudar em Salvador, pois para muitos estancianos ir para a capital baiana era mais fácil do que ir para Aracaju.
O caldo de cana do Sr. Nivaldo embebido em barris de madeira eram vendidos no centro da feira da cidade onde muitos procuravam beber.
A Feirinha nos sábados na Santa Cruz e muitas outras coisas que o esquecimento o vento levou.
Assim se passaram os meus dez anos em Estância.
CARLOS MODESTO
Fotógrafo, cineasta e escritor sergipano radicado na BAHIA.