Aumenta atendimento por mordida de cães
Em caso de acidentes é importante procurar um médico especializado rapidamente
Texto: Sérgio Dias
Fotos: Pixabay
Os incidentes envolvendo mordidas de cães não são incomuns no Brasil.
Estima-se que milhares de pessoas sejam atacadas anualmente, resultando
em lacerações, cortes profundos, contusões e, em casos extremos,
amputações com danos a músculos e ossos. Dados do Ministério da Saúde
indicam que cerca de 30 mil atendimentos por ano em unidades de saúde
estão relacionados a mordidas de cães.
De acordo com o DATASUS, em 2022, foram contabilizados 35.290
atendimentos ambulatoriais por acidentes com cães. Em 2023, os números
aumentaram para 49.377 e, até agosto deste ano, somam 39.147
atendimentos. Além disso, em 2022, houve 1.216 internações hospitalares
decorrentes desses incidentes, enquanto em 2023 foram registradas 1.438
internações. Até agosto deste ano, já foram contabilizadas 960 internações.
Um caso recente que exemplifica a gravidade desses incidentes ocorreu em
abril deste ano, quando a escritora Roseana Murray, de 73 anos, foi atacada
por três cães da raça pitbull enquanto caminhava na praia de Saquarema, no
Rio de Janeiro. Roseana foi arrastada por pelo menos cinco metros, teve o
braço direito dilacerado, que passou por amputação, além de perder uma
orelha. O braço esquerdo e o lábio precisaram ser reconstruídos.
O presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia da Mão (SBCM), Antonio
Carlos da Costa, explica que "as mordidas de cachorro, seja de um animal
de estimação ou um animal estranho, podem ter consequências terríveis.
Todo cachorro pode provocar lesões, mas quanto mais forte a mordida e
quanto mais tempo o cachorro mantém a parte do corpo entre os dentes, os
danos serão maiores".
Ele acrescenta que os cães pitbulls, com força de mordida de
aproximadamente 200 kgf (quilogramas-força), mantêm a parte do corpo
da vítima presa por tempo prolongado. As mãos, o antebraço, o braço e as
pernas são as partes do corpo mais acometidas. Nas crianças, o rosto
também é comumente afetado devido à altura mais acessível aos cães.
Nas mãos, os ferimentos mais comuns são lacerações, lesões tendíneas, de
nervos e fraturas, podendo haver amputação. Antonio Carlos da Costa
destaca que "a mão do homem é uma estrutura complexa que nos permite
executar tarefas finas e com sensibilidade epicríticas, o que nos diferencia
das outras espécies. Quando há lesões de nervos, tendões, ligamentos e/ou
fraturas, ocorre quebra da harmonia dos tecidos e, consequentemente,
déficit funcional".
Ele também alerta para o risco de infecção devido à inoculação de bactérias
presentes na boca do animal nos tecidos mais profundos, especialmente em
indivíduos imunossuprimidos e pacientes com alterações na
microcirculação, como fumantes e diabéticos.
Em caso de acidentes com cães, o especialista ressalta a importância de
procurar atendimento médico especializado rapidamente. "Nos acidentes de
mão, procure um cirurgião da mão. No local, lave com água corrente e
cubra com tecido limpo. Não coloque pomadas ou remédios caseiros.
Em caso de amputação, lave a parte amputada com água corrente, envolva
em tecido limpo e coloque em geladeira de isopor com gelo, evitando o
contato direto de dedo com o gelo", orienta Antonio Carlos da Costa,
reforçando que a atuação rápida e adequada é essencial para minimizar os
danos.