Luiz Eduardo Costa: Machadinho, um pequeno empresário nascido em um povoado pobre, que fez renascer a esperança de futuro em Canindé
Em Canindé do São Francisco, nas beiradas do grande rio, no entorno adusto e fascinante das caatingas baianas do Raso da Catarina, a historia recente registra uma saraivada de tropelias.
A derradeira delas, ocorreu agora, no decorrer da campanha eleitoral, marcada pela abusiva exibição de poder, quando um candidato, Kaká Andrade , assumiu a “ patente “ de “ coronel “, daqueles de baraço e cutelo, ou açoitadores com “ cipós cabocos “ ( uma sugestão de um dos seus apoiadores que ele ouviu com riso de satisfação).
Assim, teve à sua disposição uma parte da PM . Até poucos dias antes da eleição também os cofres da Prefeitura eram manejados por um seu indicado de “ absoluta confiança”.
A coisa chegou ao extremo. E da parte de Kaká choveram insultos e impropérios contra o seu adversário, secundado por familiares muito próximos, criando-se um ambiente de odiosidade, descendo ao terreno apodrecido das baixarias.
Canindé, já se disse, em alguns casos se torna uma máquina de moer reputações. No caso, imaginava-se que tanto Kaká Andrade como o seu entorno familiar fossem cuidadosos, preservando pelo menos algum resquício de compostura.
Nisso, discreparam do comportamento equilibrado e elegante do tio de Kaká, Ulices Andrade, do primo de Kaká , Jeferson Andrade, e do seu irmão Orlandinho Andrade, um político, ex-prefeito, que a população chorou lamentando a morte prematura. Orlandinho espalhava entendimento, harmonia, e tinha um carinho especial pelos pobres e desvalidos.
Por isso, Orlandinho ganhava eleição, e Kaká perde todas que disputa, porque não tem carisma, não tem respeito pelo semelhante, e usa o seu desastrado marketing para cometer infâmias, como acusar adversários políticos de serem integrantes do PCC.
Enquanto ele enveredava pelo ódio, e perdia a noção do que é compostura, o seu adversário que ele tentou humilhar, Jose Machado Barbosa, Machadinho, um pequeno empresário , que construiu com dignidade a própria vida, sem ser carrapato de cargos públicos, caminhava entre os seus irmãos, no povoado pobre onde nasceu, e deixava mensagens de esperança. Coisas assim como colocar a funcionar uma Maternidade e criar um Centro de proteção materna e infantil, marcando a data : o Dia das Mães, no próximo ano.
Tendo vivido entre meninos pobres, e que hoje continuam, já na meia idade, sem emprego, sem terem recebido uma Educação de bom nível, dependendo, quase todos, da Bolsa Família, do FUNRURAL dos avós, pais ou outros parentes, Machadinho a eles explicava como iria gerar empregos, criando um Fundo de Desenvolvimento, para financiar sem juros o surgimento ou a expansão de pequenas e micro empresas. Mostrava como seria possível atrair industrias para agregarem valor às frutas produzidas no Perímetro Irrigado Califórnia; como poderia expandir o turismo e diversificar roteiros , organizando um calendário de eventos, e dando vida e energia a uma Orla de excelente qualidade, mas , que afunda no abandono; mostrou como iria transformar um Matadouro abandonado por não poder funcionar numa área densamente povoada, e ali criar um Centro de Cultura, para o ensino da música, do teatro, das artes plásticas, para o convívio com a literatura, e criar a Orquestra de Canindé, o Corpo de Dança de Canindé. Ou seja, ter um braço para completar o processo educacional e civilizatório, com a imersão na cultura.
E em tempo de Olimpiadas, aproveitou a ocasião para anunciar a criação do Parque da Juventude, uma ampla área para a pratica de esportes, inclusive náuticos, porque resta esquecido que Canindé fica as margens de um grande rio e de um imenso lago. Garantiu fazer uma Feira de Gado no amplo terreno abandonado, onde seria construído um ilusório aeroporto, sem viabilidade porque numa das cabeceiras existe uma serrania. Enfim, mostrou a viabilidade de ser instalado um novo perímetro irrigado na região da Quixabeira, onde, às margens do rio, poucos metros acima do nível água há terras de excelente qualidade, ocupadas por assentados que quase nada produzem, por falta de água. E explicava mais que tudo aquilo seria possível ,porque o município tem hoje uma receita mensal de mais de vinte milhões de reais, e, no próximo ano, estará beirando os 24 milhões.
Essas coisas caíram no imaginário popular , como se fosse um novo tempo de esperança, libertação do infeliz município das garras de políticos incapazes de pensar e de fazer, com as cabeças enferrujando pelo descaso, e desconhecimento de uma categoria social imensa, que se chama povo.
Pois o povo reagiu aos insultos, reagiu às ameaças, reagiu às previsões sinistras levadas ao palanque pelo senador Alessandro Vieira, que aliás por lá poucos sabem quem seja, e sobretudo, à gigantesca compra de votos, incluindo a tomada de titulo e carteira de identidade das pessoas, para que não votassem, e depois, sendo Kaká Andrade eleito, receberiam de volta seus documentos junto a cinco notas de cem reais.
E o povo perguntava: “ E para depois passar 4 anos sem escola, sem Hospital, sem emprego?”
E veio o resultado que parecia improvável ou até impossível, pois Machadinho jamais seria prefeito, como raivosamente ameaçava em áudio, uma irmã de Kaká, que aliás é advogada: “ Eu não vou deixar “.
O povo deixou. Foram mil cento e sessenta votos de diferença.
O povo, os adversários, que Kaká não cansou de chamar: “Maloqueiros, vagabundos, gente desqualificada, merecendo “cipó caboco” no lombo.” Para saber onde é seu lugar.”
As vezes, em Canindé, coisas boas também acontecem.
POR Luiz Eduardo Costa