Fiscalização do Sindimed, CRM e CFM expõe situação crítica em hospital de Canindé de São Francisco
Na manhã dessa terça-feira, 22, o Sindicato dos Médicos do Estado de Sergipe (Sindimed), o Conselho Regional de Medicina (CRM-SE) e o Conselho Federal de Medicina (CFM) realizaram uma fiscalização no Hospital de Pequeno Porte Haydée de Carvalho Leite Santos, situado no município de Canindé de São Francisco, no Alto Sertão sergipano. A ação foi motivada por denúncias recebidas e revelou uma série de irregularidades e condições precárias que colocam em risco tanto os profissionais de saúde quanto os pacientes atendidos na unidade.
A inspeção foi coordenada pelos presidentes do CRM-SE, Dr. Jilvan Pinto Monteiro, e do Sindimed, Dr. Helton Monteiro, com a participação do conselheiro do CFM, José Elerton Aboim, do diretor executivo do Sindimed, Dr. Alfredo Andrade, e da conselheira do CRM, Dra. Tiziane Cotta Machado. Ao chegarem ao hospital, os profissionais se depararam com um cenário alarmante, com diversas irregularidades que colocam em risco a saúde de pacientes e a segurança dos médicos.
Condições deploráveis
O hospital, que deveria oferecer serviços essenciais à população, apresenta problemas de princípios básicos, como a ausência de um laboratório funcionando 24 horas. O laboratório é externo, e só realiza exames de segunda à sexta-feira durante o dia. Exames essenciais, como os de enzimas cardíacas — fundamentais em casos de dor torácica —, não são feitos na unidade. Essa deficiência obriga os pacientes a serem transferidos para outros municípios, colocando em risco suas vidas.
Além disso, a estrutura física da unidade está em ruínas: paredes e tetos apresentam infiltrações e mofo, algumas portas apresentam deterioração, e equipamentos como macas e leitos estão em estado degradante. A farmácia do hospital também é deficitária. Os banheiros são insalubres e não oferecem condições mínimas de higiene, aumentando a possibilidade de contaminação.
“O Sindicato dos Médicos participou ativamente desta fiscalização conjunta com o CRM-SE e o CFM, em uma ação de extrema relevância para a defesa tanto dos profissionais de saúde quanto da população atendida. Essa inspeção é fundamental porque traz à tona uma realidade alarmante que não pode mais ser ignorada. Encontramos condições absolutamente precárias, que comprometem a integridade do trabalho médico e, pior ainda, colocam em risco a vida dos pacientes. Essa parceria entre Sindimed, CRM e CFM é essencial para garantir que o direito à saúde, previsto na Constituição, seja respeitado. Não se trata apenas de expor problemas, mas de cobrar soluções imediatas e pressionar para que os gestores cumpram sua responsabilidade”, sublinhou Dr. Helton Monteiro, externando perplexidade com o que viu.
“A situação é lastimável”, sintetizou Dr. Jilvan Pinto Monteiro. “Encontramos locais sem oxigênio nas enfermarias, falta de material para forrar os leitos, e a ausência de leitos pediátricos, mesmo atendendo casos de pediatria, clínica médica e parto”, complementou.
Outra denúncia preocupante diz respeito à ameaça da Secretaria Municipal de Saúde de reduzir o número de médicos em plantão. Atualmente, a unidade conta com dois médicos, mas há a possibilidade de que, a partir da próxima semana, apenas um médico fique responsável por atender cerca de 140 pacientes por dia. Atualmente, o hospital conta, além de dois médicos, com quatro enfermeiros e oito técnicos em enfermagem.
“Isso é um risco tanto para o médico quanto para a população. Estamos lidando com uma situação em que o atendimento já é precário, e reduzir ainda mais a equipe médica é irresponsável”, disse o presidente sindical, em tom crítico.
Trabalho médico precarizado
Além das questões estruturais e de atendimento, a fiscalização também revelou problemas graves relacionados ao vínculo empregatício dos médicos que trabalham no hospital. Muitos profissionais atuam sem contrato estável, o que compromete sua segurança e autonomia no exercício da medicina.
“Os médicos estão sendo ameaçados de demissão, e o plantão, que já é caótico, pode se agravar ainda mais com essa redução”, lamentou Dr. Helton Monteiro.
Durante a inspeção, os representantes das entidades médicas também receberam a denúncia de uma médica que trabalha sozinha na Unidade Básica de Saúde do assentamento Cuiabá, após a demissão de outros profissionais que não eram concursados.
“Essa precarização do trabalho não pode continuar. É preciso garantir que os médicos tenham condições dignas de trabalho e, sobretudo, que os pacientes sejam atendidos com qualidade”, acrescentou o presidente do Sindimed.
Encaminhamentos e medidas legais
A fiscalização no Hospital Haydée de Carvalho Leite Santos não ficará apenas no campo das denúncias. Os resultados da inspeção serão formalmente encaminhados para a Secretaria Estadual de Saúde, a Secretaria Municipal de Saúde de Canindé de São Francisco e o Ministério Público.
“O quadro que encontramos é ainda mais grave quando se considera a ausência de gestão médica adequada. Atualmente, o hospital não possui diretor clínico nem diretor técnico, deixando a responsabilidade direta nas mãos da Secretaria Municipal de Saúde. Essa falha administrativa agrava ainda mais a situação já crítica da unidade. Diante dessa situação, não podemos nos calar. Tomaremos todas as medidas legais cabíveis de forma imediata, buscando garantir que a população e os profissionais de saúde não sejam mais expostos a esse cenário”, concluiu Dr. Helton Monteiro.
A possibilidade de uma ação judicial direta também está sendo estudada pelas entidades médicas, dada a gravidade das irregularidades encontradas, como explica Dr. Jilvan. “A situação, segundo os médicos, é tão crítica que medidas emergenciais são necessárias para garantir a segurança dos profissionais e pacientes que dependem dos serviços da unidade”.
Nesse sentido, a fiscalização realizada pelo Sindimed, CRM-SE e CFM expõe a face cruel de um sistema de saúde que negligencia tanto os trabalhadores quanto os pacientes. A precariedade do Hospital Haydée de Carvalho Leite Santos é um reflexo das deficiências de gestão e falta de investimentos em saúde pública no interior de Sergipe.
Cabe, agora, às autoridades competentes tomarem as medidas necessárias para reverter essa situação e garantir que a população de Canindé de São Francisco e da região do semiárido tenham acesso a um atendimento digno e eficiente.